AKS multi-cluster para IA: Arquitetura, escalabilidade e resiliência em produção
Introdução
À medida que workloads de Inteligência Artificial evoluem, um único cluster Kubernetes deixa de ser suficiente.
Treinamento, inferência, experimentação e produção passam a competir por recursos críticos como GPU, rede e armazenamento. Além disso, requisitos de disponibilidade, isolamento e compliance tornam a operação ainda mais complexa.
É nesse cenário que surge o AKS multi-cluster como padrão arquitetural para IA em escala. Em vez de concentrar tudo em um único cluster, você distribui responsabilidades, reduz blast radius e ganha flexibilidade operacional.
Neste artigo você vai aprender:
- Por que adotar AKS multi-cluster para IA
- Padrões arquiteturais mais comuns
- Estratégias para treinamento, inferência e experimentação
- Comunicação entre clusters
- Observabilidade, segurança e governança em ambientes multi-cluster
1. Por que single-cluster não escala para IA
Em workloads tradicionais, um cluster grande pode funcionar bem. Em IA, isso muda rapidamente.
Problemas comuns em single-cluster:
- disputa entre pods CPU e GPU
- dificuldade de isolamento entre times e workloads
- upgrades arriscados
- limitação de blast radius
- gargalos de rede e armazenamento
- políticas de escalabilidade conflitantes
Para IA, onde falhas e variações de carga são normais, isolar responsabilidades é fundamental.
2. Quando usar AKS multi-cluster
Você deve considerar multi-cluster quando:
- há múltiplos modelos em produção
- treino e inferência coexistem
- há ambientes dev, staging e prod bem definidos
- é necessário escalar GPUs de forma independente
- a organização opera em múltiplas regiões
- existe necessidade de DR ativo ou passivo
Regra prática.
Se a falha de um cluster não pode derrubar toda a plataforma de IA, você precisa de multi-cluster.
3. Padrões arquiteturais de AKS multi-cluster para IA
3.1. Separação por função
O padrão mais comum.
- Cluster de treinamento
- Cluster de inferência
- Cluster de experimentação
Benefícios:
- isolamento total de GPU
- políticas de escala independentes
- custo previsível
Treinamento pode usar Spot GPU. Inferência usa On Demand com SLA.
3.2. Separação por ambiente
Muito usado em empresas reguladas.
- AKS Dev
- AKS Staging
- AKS Production
Cada cluster possui:
- quotas próprias
- políticas de segurança distintas
- pipelines independentes
Ideal para evitar que testes impactem produção.
3.3. Multi-região ativo-passivo
Padrão para alta disponibilidade.
- Cluster primário em uma região
- Cluster secundário em outra
- Replicação de modelos e artefatos
- Failover manual ou semi-automatizado
Inferência pode ser redirecionada rapidamente em caso de falha regional.
3.4. Multi-cluster ativo-ativo
Mais complexo, porém mais resiliente.
- Dois ou mais clusters ativos
- Tráfego distribuído
- Balanceamento global
- Escala independente por região
Ideal para plataformas globais de IA.
4. Comunicação entre clusters
Clusters não devem se comunicar livremente. A comunicação precisa ser controlada, privada e observável.
Opções recomendadas
- Azure Private Link + Private Endpoints
- Virtual Network Peering
- Azure Application Gateway ou Front Door para inferência
- DNS privado com Private DNS Zones
Boas práticas:
- nunca exponha APIs de inferência via IP público direto
- use identidade gerenciada para autenticação
- trate comunicação inter-cluster como tráfego zero trust
5. Gerenciamento de modelos em multi-cluster
Modelos precisam estar disponíveis em todos os clusters relevantes.
Abordagens comuns:
- Storage Account com Private Endpoint
- Replicação de blobs entre regiões
- Artefatos versionados
- Pull de modelo no startup do pod
Boas práticas:
- nunca bake o modelo na imagem do container
- use versionamento explícito
- controle rollout por cluster
6. Escalabilidade de GPU em multi-cluster
Cada cluster deve escalar de forma independente.
Estratégias
- Node Pools GPU dedicados
- Autoscaling baseado em métricas reais
- Compute Fleet para flexibilidade de SKU
- Quotas monitoradas por cluster e região
Exemplo de boas práticas:
- Treinamento. escala agressiva, tolerante a falhas
- Inferência. escala conservadora, foco em latência
- Experimentos. quotas rígidas e controle de custo
7. Segurança e governança
Multi-cluster aumenta superfície de ataque se não houver governança clara.
Pilares essenciais:
- AKS com identidade gerenciada
- RBAC por cluster
- Azure Policy para AKS
- Network Policies entre namespaces
- Segregação de VNets por função
- Logs centralizados
Regra prática.
Cada cluster deve poder ser comprometido sem comprometer os demais.
8. Observabilidade multi-cluster
Monitorar apenas um cluster não é suficiente.
Você precisa de:
- métricas consolidadas
- visão por cluster, workload e modelo
- alertas distribuídos
- rastreabilidade de falhas
Ferramentas:
- Azure Monitor
- Container Insights
- Log Analytics Workspace central
- métricas NVIDIA DCGM
- dashboards por cluster
Boas práticas:
- namespace padrão para métricas de IA
- labels padronizados por modelo
- alertas de saturação de GPU
- análise de custo por cluster
Conclusão
AKS multi-cluster não é complexidade extra. É arquitetura necessária para IA em produção.
Ele permite:
- isolamento real entre workloads
- escalabilidade independente
- maior resiliência
- controle de custo
- evolução segura da plataforma
Resumo final:
- single-cluster limita IA em escala
- multi-cluster reduz risco operacional
- GPU exige isolamento e planejamento
- observabilidade e governança são obrigatórias
Plataformas de IA maduras no Azure usam AKS multi-cluster como padrão, não como exceção.